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Eu sou Thamara Almeida, mulher nordestina, nascida no miolo do sertão da Bahia e crescida na metrópole de São Paulo. Trago comigo a força do sertão e o movimento acelerado da cidade grande. Carrego a memória do terreiro de minhas avós, dos gestos cuidadosos com a terra, e do corpo que dançava e criava muito antes de saber que aquilo também era arte.
As infâncias me escolheram antes mesmo que eu percebesse. Quando dei conta, já estava sentada no chão, contando histórias, atravessada pelos gestos miúdos e pelos olhares atentos. E então escolhi ficar.
Com as crianças pequenas, a arte se manifesta em tudo: no silêncio que acompanha uma observação atenta, na segurança dos gestos repetidos da rotina, nos sorrisos que surgem porque é dia de macarrão, no corpo que adormece tranquilo depois de ouvir “alecrim” porque “sabia que minha mamãe canta pra mim dormir?”, no gesto de repetir uma brincadeira por dias até que ela mude, no silêncio que compartilhamos ao redor da fogueira do São João — sim, silêncio, elas são tão preciosas! A arte está no corpo, na curiosidade, na repetição e na poesia que se revela no brincar.

"Acredito que a arte na infância não serve para formar artistas, mas para cultivar presença. Ela amplia o olhar, afina a escuta e sustenta o tempo da experimentação."

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Há um momento, quando a criança chega, em que tudo ainda é  estranhamento. É como pisar num território novo com sapatos apertados: caminhamos devagar, esperando sentir firmeza no chão. Esse início, que chamamos acolhimento, é mais que adaptação: é uma tentativa de encontro. E talvez a arte também more aí! Nesse espaço entre o familiar e o novo, no que se costura quando o adulto se propõe a escutar e, com delicadeza, buscar o que faz sentido para cada criança. E quando, aos poucos, a criança se permite estar. Porque a arte aqui não é só criar algo com as mãos: ela habita em lugar onde se pode simplesmente ser.
Acredito que a arte na infância não serve para formar artistas, mas para cultivar presença. Ela amplia o olhar, afina a escuta e sustenta o tempo da experimentação. Nessa rotina, a infância nos ensina a desacelerar, a olhar com mais cuidado e a habitar o presente com inteireza. A arte cria tempos outros.
Na escola, ela desacelera o cotidiano e convida o adulto a olhar com mais atenção. É através dela que as crianças mostram o que sentem, o que pensam, o que imaginam.
A arte nas infâncias é um convite: estar junto, olhar com atenção, escutar com o corpo inteiro. Ela abre espaço para o inesperado, para o encantamento que mora no simples. Mais do que ensinar técnicas ou produzir obras, a arte com as crianças é cuidado, fortalecimento de vínculos, a potência do encontro. É nesse lugar de presença que a arte revela sua força mais verdadeira.

© 2025 por Coletivo Corpo Aberto. Todos os direitos reservados

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